segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

XIX IRT da Hebraica

Ainda vou rever minhas partidas deste evento com mais calma, mas seguem abaixo minhas impressões iniciais (fortmemente influenciadas pelas de meus oponentes). Todas as partidas do evento estão disponíveis aqui.
Na 1ª rodada enfrentei Eduardo da Costa Marra, 30, 2208 de rating (430 pontos a mais que eu), fazendo dele um jogador duas categorias acima da minha (uma categoria, ou mais propriamente, classe de rating, equivale a 200 pontos). Pelo sistema estatístico utilizado no xadrez, isto dava a ele uma esperança de pontuar de 0,93 contra uma esperança de 0,07 parta mim (cada partida no xadrez vale um ponto e o empate é um resultado possível e relativamente comum). A partida foi boa, com poucos erros. Na abertura joguei um plano pouco usual com 7. ... Ce4 e 8. ... Cb4 (eu estava de pretas) mas que pelo menos desta vez funcionou bem. O momento crítico foi por volta do 12º lance (aqui a análise é de meu adversário). Com 12. ... Td8 penduro um peão. Com 13. Cd2 ele deixa de aproveitar da melhor forma e tivesse eu jogado 13. ... Cxd2 teria igualado a posição. Daí em diante ele foi lentamente aumentando sua vantagem e ao final seu favoritismo prevalesceu. Esta foi, de longe, a partida em que mais gastei meu tempo (terminei com 4' restantes).
Na 2ª, tive brancas contra Luca Oshiro Camargo, 12, 1520 (258 a menos que eu). A expectativa era de 0,82 a 0,18 a meu favor. No entanto, jogadores desta idade, frequentemente estão em processo de rápida ascensão (me parece ser o caso de meu adversário) e seu rating dificilmente reflete sua força de jogo. Ele se mostrou muito melhor preparado que eu para a abertura e conseguiu boa vantagem. Desta vez porém ele gastou mais tempo que eu e seu apuro de tempo aliado à sua inexperiência o levou a errar com 43. ... Txb3, o que me permitiu o duplo 44. Cd4, ganhando a torre e transformando uma derrota certa em vitória.
Na 3ª, pretas contra Arthur Nader Luz, 17, 2041 (263 a mais que eu). Mais uma vez expectativa de 0,82 a 0,18, só que desta vez a favor de meu adversário! Apesar de ter perdido, estou novamente contente com minha partida. Segundo Arthur meu grande erro foi 16. ... Dc5, que lhe permitiu 17. De4 com ataque mortal. Foi um prazer observar como ele impôs seu estilo agressivo às complicações que tentei criar.
Da 4ª não pude participar por compromisso familiar (festa de aniversário dos sobrinhos), então pedi para não ser emparceirado.
Na 5ª, brancas contra meu vizinho de bairro (neste dia fomos ao local no mesmo ônibus), Homero Brujin, 56, 1507 (271 a menos que eu, expectativas de 0,83 a 0,17 a meu favor). Confesso que esperava outra defesa dele, ao invés da Pirc empregada. Joguei com um avanço precoce (talvez até precipitado) de f4, buscando uma linha em que cada jogador atacaria em uma das alas. Para meu plano funcionar, provavelmente eu deveria ter tentado uma ruptura em e5 ou f5, mas ainda não sei precisar o momento ideal para tanto. Da forma com que joguei logo percebi que o ataque dele na ala da dama seria muito mais rápido que o meu na ala do rei e optei por também rocar pequeno, demonstrando o total fracasso de minha ideia original. Apesar desta desvantagem inicial, minha situação melhorou muito quando meu cavalo acessou a casa e6 no lance 27. As trocas que se seguiram conduziram a posição a um final em que tenho clara vantagem e que converti em vitória em poucos lances.
Na 6ª e última rodada, repeti brancas contra Rauanda Schultz, 20, 1540 (238 a menos que eu, expectativas de 0,80 a 0,20). Este é um confronto repetido de meu torneio anterior (disputado em dezembro último no Clube de Xadrez São Paulo) mas com as cores invertidas. Naquela ocasião ela errou cedo e ganhei com facilidade. Desta vez eu esperava uma partida bem mais difícil. Tendo acertado que ela usaria a defesa Caro-Kann, resolvi empregar um ideia mostrada pelo meu tio, um especialista, com 3. f3!?. Com a manobra 11. c4, 12. Db3, 13. Dg3 iniciei o ataque ao seu rei. 14. Bh6?, no entanto, foi uma perda de tempo, teria sido melho o bispo ir direto a e3 ou a f4. Montei meu ataque com paciência e minha adversária mostou-se tenaz na defesa. Mas esta defesa custou-lhe longos períodos de reflexão e quando seu tempo já se escasseava, iniciei as simplificações e sacrifiquei uma qualidade para entrar num final ganho que rapidamente converti em ponto.
Resumo da ópera: três boas partidas (rodadas 1, 3 e 6), uma mais ou menos (5) e uma ruim (2). Ganho de 5,8 pontos de rating (preciso jogar muitos torneios ou melhor consistentemente meu desempenho se desejar cumprir a meta de voltar aos 1850). Claramente houve uma boa evolução em meu nível de jogo com relação aos torneios anteriores (o já citado de dezembro e um ainda pior em novembro). Mas é necessário estudar bastante e melhorar (construir provavelmente é mais exato) o repertório de aberturas para seguir progredindo. Uma pena a grande diferença de ratings em relação a todos os adversários, teria sido bom enfrentar ao menos um ou dois jogadores na mesma classe de rating.
Meu irmão Felipe teve um torneio muito parecido com o meu, com adversários de forças similares e exatamente a mesma evolução na tabela, ganhando 3 pontos de rating. O destaque de seu torneio fica para os confrontos contra os irmãos Igor e Mariana Cadilhac. Meu tio também teve um torneio razoável, ganhando 3,5 pontos de rating.
O torneio terminou em quadrúplo empate com Adriano Caldeira, Armen Proudian, Bernardo Sztokbant e Igor Cadilhac (listados pela ordem de desempate) somando cinco pontos nas seis rodadas disputadas. Clique aqui para visualizar a tabela completa. A organização esteve muito boa e não é de espantar que o evento já esteja em sua 19ª edição.


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